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Dira Paes escreveu prefácio para Carlos Correia Santos

Em 2011, a aclamada atriz global presenteou o artista e terapeuta com texto de abertura de seu livro Trinos Titãs

Um presente imenso: ganhar prefácio de livro assinado por uma das mais aclamadas atrizes do Brasil. Carlos Correia Santos viveu essa especial experiência em 2011, quando Dira Paes aceitou fazer o texto de apresentação de seu livro Trino Titãs, publicado pela Giostri Editora (SP). A obra reúne dramaturgias de Correia nascidas de sua apaixonada e antiga pesquisa sobre os ícones culturais Ismael Nery, Adalgisa Nery e Murilo Mendes.

“Essa, sem dúvida, foi uma das maiores emoções da minha trajetória. Dira, além de uma artista poderosa, é um ser humano incrível. Uma pessoa comprometida com causas sociais, humanitárias. Ter um livro apresentado por ela é realmente privilégio da vida”, pontua Carlos, emocionado.

CONFIRA NA ÍNTEGRA O PREFÁCIO ESCRITO POR DIRA

“O que inspira um poeta?

Qual a sua fonte primeira?

Um mergulho na própria existência?

Trino Titãs convoca Carlos Correia Santos à carpintaria de dramatizar a paixão e a poesia das biografias dessa trinca de artistas que marcaram a História com a sua arte e seu poético, intenso e excitante caso de amor.

O paraense Ismael Nery, a carioca Adalgisa Nery e o mineiro Murilo Mendes são personagens reais e irresistíveis para quem busca uma prática de montagem teatral que penetre profundamente na questão do amor a três. As angústias, os ideais, seus afetos, vão além do que o comum dos mortais vive. São deuses de carne e osso e genialidade.

Cabe dizer que poderíamos reconhecê-los na sociedade contemporânea, pois eram pessoas a frente de seu tempo. Talvez aí morasse a fragilidade destes personagens, que não cabiam dentro de si e de sua época. O autor revolve a desconstrução da estrutura do humano de cada personagem, revelando o convívio angustiante e silencioso com as suas dores e amores.

Em “Nu Nery”, Ismael, senhor de seu tempo e da sua inquietude artística, instiga a uma interpretação de um personagem vigoroso. Mesmo em seus últimos suspiros, esbraveja contra os céus: ” Meu Deus, para que pusestes tantas almas em um só corpo?… Dai-me, como vós tendes, o poder de criar corpos para as minhas almas… Ou levai-me deste mundo que já estou exausto…”, dada a multiplicidade de sua personalidade e a dificuldade de reconhecer-se entre tantas facetas. Ao contrário de sua magnífica obra e de sua impecável formação intelectual.

A estrutura cênica proposta sabiamente pelo autor, na troca de figurinos dos atores em cena, faz com que cada personagem experiencie o jogo cênico da também troca de interpretações. Como se cada ator pudesse se vestir do objeto e sujeito de seus estímulos dramáticos.  Desafiando os atores a se apropriarem de todos os personagens com a mesma entrega.

Em “Alma Imaginária”, Adalgisa contracena consigo mesma. Ela selou o seu destino.  Condenada a conviver com as suas lembranças até a sua maturidade. Isolou-se para que pudesse vivenciá-las sem dispersão: “O que fiz?… Fiz daquela dor meu poema de mortalha… Envolvi com tamanha morte o meu corpo de fêmea eterno luto… E segui…” Sua exuberância física e intelectual era tão imponente que não a deixava passar despercebida. Marcada pela perda de muitos filhos, ela traduz a oca sensação de ser uma mulher maculada pela volúpia e suas perdas irreparáveis.

No monólogo “Uno Diverso”, Murilo Mendes se revela: “…Às vezes, penso que conheci Ismael e Adalgisa mesmo antes de me conhecer…”  O mineiro é a memória e a consciência de quem se apaixonou por um amor que já existia. E foi fiel a ele. Deixando o legado que permitiu esta pesquisa.

Em “Ismael em três traços”, Carlos aproveita para exercitar a alta qualidade dos diálogos entre os vários “Ismaéis”, permitindo a falta de linearidade do pensamento. O resultado é um jogo dinâmico do universo dos nossos musos modernistas.

A obra de Carlos Correia Santos ousa para além do exímio jogo cênico proposto aos atores e direção. Sem dúvida, proporciona a possibilidade de grandes voos de interpretação e montagem, dada a riqueza e singularidade em que se deram os fatos e o texto teatral em si.

É impossível desassociar essa tríade como o nosso dramaturgo nos prova. Sua inspirada busca em desvendar cada ponta desse irresistível triângulo de gênios resulta em textos irretocáveis na sua plenitude de prosa e verso. Percebe-se que o nosso premiado autor foi incansável na pesquisa que transcende o papel e que só se enriquece nas entrelinhas. Poeta também, desatou cada nó dessa trama, para depois enlaçar-nos nas redes de uma primazia teatral só encontrada nos textos de grandes dramaturgos.

DIRA PAES

Atriz

Rio de Janeiro, 7 de novembro de 2011”

Capa do edição de Trinos Titãs, publicada pela Giotri, em 2011

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